Jesus demonstrou em Seus ensinos ser o Mestre por excelência. Seu conhecimento e sabedoria causaram admiração aos leigos e educadores de seus dias. A metodologia de ensino era inigualável e as mais importantes universidades foram fundadas por causa dEle. Alguns de Seus ensinos mais sublimes foram expressos em linguagem figurativa, como as parábolas. “Ele não poderia haver usado método de ensino mais eficaz.”[1] A reação dos ouvintes era: “Jamais alguém falou como este Homem” (João 7:46). Um exame minucioso desses ensinos é significativo quando se evidencia que um terço do ensino de Jesus nos evangelhos sinóticos se apresenta em forma de parábolas.[2] O evangelista Marcos comprovou esse fato, quando escreveu: “Com muitas parábolas semelhantes Jesus lhes anunciava a palavra, tanto quanto podiam receber. Não lhes dizia nada sem usar alguma parábola” (Mc 4:33, 34).
O que é uma Parábola?
O conceito popular de parábola é um tipo de figura de linguagem em que se fazem comparações. “No Antigo Testamento, o termo utilizado é marshal, que também é usado para designar provérbio ou enigma.”[3] No Novo testamento, o termo é parabole e “vem do grego para (‘ao lado’ ou ‘junto a’) e ballein (‘lançar’). Assim, a história é lançada com a verdade para ilustrá-la”.[4] “No âmago do significado de parabole e marshal está a ideia de uma comparação entre duas coisas dessemelhantes. A realidade de nosso mundo é posta em contato com um mundo narrativo da parábola para alguma comparação que produza uma nova compreensão.”[5]
As parábolas de Cristo estão correlacionadas com outras figuras de linguagem. As “similitudes” geralmente falam de costumes no tempo presente fazendo uma comparação entre dois elementos e usam geralmente as expressões como, assim como, tal qual, tal como. Pedro usou uma símile quando escreveu: “toda humanidade é como a relva” (1 Pedro 1:24). As parábolas falam de um determinado momento do passado (e.g., “o semeador saiu a semear” [Mateus13:3]). Também são perceptíveis as alegorias. “É uma figura de linguagem, mais especificamente de uso retórico, que produz a virtualização do significado, ou seja, sua expressão transmite um ou mais sentidos que o da simples compreensão ao literal.”[6] Enquanto que a parábola consiste num acontecimento factível, a alegoria pode ser tanto factível como fictício. “Olhando para todas as parábolas que Jesus contou e as situações variadas em que Ele as proferiu, é razoável afirmar que Ele usou uma variedade de parábolas, algumas das quais eram meros símiles que não precisavam muito de alguma explicação (todos compreendiam imediatamente seu propósito), e outras que poderiam ser mais bem descritas como metáforas ou como de natureza alegórica e precisando de explicação.”[7]
Por que Jesus falava por parábolas?
Assim como a Divindade foi revelada por meio de humanidade de Cristo, ao usar os elementos da natureza em Suas parábolas, Jesus fornecia um veículo poderoso para compreensão das verdades espirituais em Seus ouvintes. “Tão ampla era a visão que Cristo tinha da verdade, e tão extensos os Seus ensinamentos, que cada aspecto da natureza foi utilizado para ilustrar verdades.”[8] Ensinava com autoridade, já que toda a criação era obra de Suas mãos. “O desconhecido era ilustrado pelo conhecido; verdades divinas, com as quais o povo estava familiarizado.”[9] Mais tarde, quando os ouvintes se deparavam com os objetos ilustrados, vinham-lhes à mente os ensinos de Jesus.
Não eram simples ilustrações como as que estamos acostumados a ouvir num sermão. A parábola envolvia as pessoas em um nível muito aprofundado de reflexão. Eram tão penetrantes que produziam efeitos diversos. Enquanto uns entregavam o coração instantaneamente a Cristo, outros procuravam matá-Lo.
“Ele lhes disse: A vocês foi dado o mistério do Reino de Deus, mas aos que estão fora tudo é dito por parábolas, a fim de que, ainda que vejam, não percebam; ainda que ouçam, não entendam; de outro modo, poderiam converter-se e ser perdoados” (Marcos 4:11, 12).
Percebe-se que o propósito das parábolas de Jesus era multifacetado. Ele as usava para revelar e, ao mesmo tempo, para esconder. Como “a multidão não julgava as parábolas; eram as parábolas que julgavam as pessoas”,[10] ao ouvinte interessado e sincero era revelado aquilo que anteriormente estava oculto: o mistério do Reino de Deus. Esse grupo sentia o desejo de ganhar a salvação, enquanto o ouvinte desinteressado ouvia a parábola, mas não entendia porque o coração estava endurecido e por achar que sabia tudo. Para esses, restava-lhes apenas o juízo.
Ellen White, no livro Parábolas de Jesus, afirma que nem todos estavam preparados para aceitar e compreender as parábolas do Mestre. Assim, Ele evitava que a multidão incrédula Lhe fizesse alguma acusação e interrompesse Seu ministério de maneira prematura.[11]
Regras para a interpretação de parábolas
No livro Compreendendo as Escrituras,[12] são apresentandas seis regras básicas de interpretação:
1. Evite a alegorização – Inicialmente, é importante diferenciar entre alegoria e alegorização. Como já foi dito, a alegoria usa uma metáfora ampliada para referir verdades fora do significado literal da narrativa. Já a alegorização é o processo de usar algum texto que não é alegórico por natureza e transformá-lo em alegoria, a fim de promover novos significados que originalmente não eram a intenção do autor. O teólogo Agostinho usou a alegorização para dizer que na parábola do Bom Samaritano o homem que descia de Jericó era igual a Adão.[13] Ele não foi o único a usar esse princípio interpretativo. Durante séculos, esse foi o método mais usado, mas seu rompimento teve início no movimento da Reforma e terminou com o erudito alemão A. Jülicher, no século passado.[14]
A alegorização facilita o ato de enxergar qualquer coisa em quase todas as parábolas. Acaba impondo um significado que o autor jamais pretendia.
2. Reúna dados históricos, culturais, gramaticais e léxicos – O mundo em que vivemos é muito diferente do mundo dos aldeões da palestina. Essa distância pode ser amenizada usando-se as descobertas arqueológicas, bem como a leitura de bons dicionários e comentários bíblicos, além de livros que retratam os costumes da época.
3. Analise a narrativa da parábola – “As parábolas têm personagens, ações, cenários e suportes, e relações de tempo; elas têm um narrador e um leitor subentendido, um ponto de vista e um enredo. A Análise destes ajuda o leitor a ver, de forma objetiva, a maneira por que é criado o impacto emocional da narrativa e ajuda a delinear os temas e ênfases da narrativa.”[15]
4. Determine o auditório – Para quem Jesus está falando? Para escribas, Fariseus, às multidões, ou aos discípulos? A compreensão dessas perguntas ajudará o leitor a determinar se a aplicação da parábola é para os de dentro ou de fora da igreja; para grupos ou pessoas. Também observe a reação dos ouvintes de Jesus, pois servirá de excelente pista para o significado das palavras.
5. Use o Espírito de Profecia – Depois da leitura bíblica, essa deveria ser a primeira fonte de pesquisa. O livro Parábolas de Jesus é rico em detalhes e, por ser inspirado, fornece uma interpretação correta das parábolas. Dessa forma, grande soma de tempo pode ser poupada em busca de respostas em outras literaturas.
6. Aplique a parábola à situação de hoje – Identifique o princípio teológico ensinado por Jesus na parábola e aplique-o à sua vida pessoal. Lembre-se de que a aplicação provém da parábola em vez de ser imposta a ela.
(Fabio dos Santos é pastor na Associação Paulista Oeste [distrito de Barretos] da Igreja Adventista do Sétimo Dia)
Referências:
1. Ellen White, Parábolas de Jesus, p. 21.
2. Grant R. Osborne, A Espiral Hermenêutica: uma nova abordagem à interpretação bíblica (São Paulo: Vida Nova, 2009), p. 372.
3. Ibidem.
4. Roy B. Zuck, A Interpretação Bíblica: meios de descobrir a verdade bíblica (São Paulo: Vida Nova, 1994), p. 225.
5. George W. Reid, Compreendendo as Escrituras: uma abordagem adventista (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2007), p. 232.
6. Ver: http://pt.wikipedia.org/wiki/Alegoria
7. George W. Reid, Op. Cit., p. 225.
8. Ellen White, Parábolas de Jesus, p. 20.
9. Ibidem, p. 17.
10. Warren W. Wiersbe, Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento: v. 1 (Santo André, SP: Geográfica Editora, 2006), p. 157.
11. Ellen White, Op. Cit., p. 21.
12. George W. Reid, Op. Cit., p. 235.
13. Ibidem.
14. Kennet Bailey, As Parábolas de Lucas (São Paulo: Vida Nova, 1995), p. 25.
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