Deve a
conversa ser sobre coisas espirituais e divinas; mas tem sido diferente.
Se a associação com amigos cristãos é dedicada especialmente ao
aperfeiçoamento da mente e do coração, não haverá remorsos depois, e
poderão recordar a conversa com prazer e satisfação. Mas se as horas são
despendidas em leviandades e em falar ocioso, empregando-se o precioso
tempo em dissecar a vida e o caráter de outros, a associação amistosa se
demonstrará fonte de males, e sua influência será “cheiro de morte para
morte”. 2 Coríntios 2:16. — Testimonies for the Church 2:186, 187.
Pensar o bem a respeito de todos —
Quando damos ouvidos a uma difamação contra nosso irmão, somos
responsáveis pela mesma. À pergunta: “Senhor, quem habitará no Teu
tabernáculo? Quem morará no Teu santo monte?”, responde o salmista:
“Aquele que anda em sinceridade, e pratica a justiça, e fala verazmente
segundo o seu coração: aquele que não difama com a sua língua, nem faz
mal ao seu próximo, nem aceita nenhuma afronta contra o seu próximo”.
Salmos 15:1-3.
Que quantidade de vã tagarelice seria
evitada, se todos se lembrassem de que aqueles que lhes contam as faltas
dos outros, com a mesma sem-cerimônia publicarão as faltas dos seus
interlocutores, caso tenham oportunidade! Devemos esforçar-nos por
pensar bem de todas as pessoas, especialmente de nossos irmãos, até que
sejamos forçados a pensar de outro modo. Não devemos ter pressa em
acreditar em relatórios maus. Eles são muitas vezes resultado de inveja
ou mal-entendidos ou podem proceder de exageros ou de uma exposição
tendenciosa de fatos. O ciúme e a suspeita, caso se lhes dê atenção,
espalhar-se-ão aos quatro ventos, como as sementes de uma praga. Se um
irmão se desvia, é então ocasião de mostrarem seu real interesse por
ele. Vão falar com ele bondosamente, orem com ele e por ele,
lembrando-se do preço infinito que Cristo pagou por sua redenção. Desse
modo poderão salvar uma pessoa e cobrir “multidão de pecados”. Tiago
5:20.
Um olhar, uma palavra e mesmo a inflexão
da voz, podem ser a expressão da falsidade, cravando-se qual seta
farpada em algum coração, infligindo-lhe ferida incurável. Assim uma
dúvida, uma difamação, pode ser lançada sobre uma pessoa por intermédio
da qual Deus iria realizar uma boa obra, prejudicando-lhe a influência e
destruindo-lhe a utilidade. Entre algumas espécies de animais, se um
dentre eles é ferido e cai, é imediatamente atacado e rasgado em pedaços
por seus companheiros. No mesmo espírito cruel condescendem homens e
mulheres que tomam o nome de cristãos. Manifestam um zelo farisaico em
apedrejar outros menos culpados que eles. Alguns apontam para as faltas e
fracassos alheios a fim de distrair a atenção dos outros, ou para serem
considerados muito zelosos em prol de Deus e da igreja. — Testimonies
for the Church 5:58, 59.
O tempo gasto em criticar os motivos e
atos dos servos de Cristo melhor poderia ser empregado em oração. Muitas
vezes, se os que buscam defeitos nos outros conhecessem a verdade
acerca desses a quem criticam, teriam opinião inteiramente diversa.
Quanto melhor não seria que, em vez de criticar e condenar os outros,
cada um dissesse: “Preciso cuidar de minha própria salvação. Se eu
cooperar com Aquele que deseja salvar a minha alma, terei que vigiar
diligentemente a mim mesmo. Terei que excluir de minha vida todo mal.
Tenho que tornar-me uma nova criatura em Cristo. Tenho que vencer todo
defeito. Então, em vez de enfraquecer os que estão a lutar contra o mal,
posso fortalecê-los com palavras animadoras”. — Testimonies for the
Church 8:83, 84.
O invejoso não reconhece o bem nos outros —
Não devemos permitir que nossa perplexidade e desapontamentos nos
corroam, tornando-nos impertinentes e impacientes. Não haja discórdia,
nem suspeitas ou maledicência, para não ofendermos a Deus. Meu irmão, se
abrir seu coração à inveja e às vis suspeitas, o Espírito Santo não
poderá habitar em você. Busque a plenitude que há em Cristo. Trabalhe da
forma por Ele indicada. Que todo pensamento, palavra e ato O revele.
Tem de haver um diário batismo do amor que nos dias dos apóstolos os
unificava. Esse amor trará saúde ao corpo, espírito e mente. Circunde
seu espírito com uma atmosfera que fortaleça a vida espiritual. Cultive a
fé, a esperança, o ânimo e o amor. Que a paz de Deus reine no seu
coração. — Testimonies for the Church 8:191.
A inveja não é meramente um desvio de
temperamento, mas uma desordem que afeta todas as faculdades. Começou
com Satanás. Ele desejou ser o primeiro no Céu e, como não alcançasse
todo o poder e glória que buscava, rebelou-se contra o governo de Deus.
Invejou nossos primeiros pais, tentando-os ao pecado, e assim os
arruinou, e a todo o gênero humano.
O invejoso fecha os olhos às boas
qualidades e nobres ações dos outros. Está sempre pronto a desprezar e
representar falsamente aquilo que é excelente. Os homens muitas vezes
confessam e abandonam outras faltas; do homem invejoso, porém, pouco se
pode esperar. Visto como invejar a alguém é admitir que ele e superior, o
orgulho não tolerará nenhuma concessão. Se for feita uma tentativa de
convencer de seu pecado a pessoa invejosa, ela se torna ainda mais
amarga contra o objeto de sua paixão, e muitas vezes permanece
incurável.
O invejoso espalha veneno aonde quer que
vá, separando amigos e suscitando ódio e rebelião contra Deus e as
pessoas. Procura ser considerado o melhor e o maior, não mediante
heróicos e abnegados esforços por alcançar o alvo da excelência, mas sim
ficando onde está e diminuindo o mérito dos outros. [...]
O apóstolo Tiago diz que a língua que se
deleita no dano que causa, a língua mexeriqueira que diz: “Conte, e eu o
espalharei” (Tiago 3:6), é inflamada pelo inferno. Ela espalha tições
de fogo por toda parte. Que importa ao tagarela se ele difama o
inocente? Ele não deterá sua obra má, embora destrua a esperança e o
ânimo daqueles que já estão se afogando sob as suas cargas. O que mais
fazem é condescender com a sua inclinação de amar o escândalo. Mesmo
professos cristãos fecham os olhos a tudo que é puro, honesto, nobre e
amável, entesourando tudo que é objetável e desagradável, e publicando-o
ao mundo. — Testimonies for the Church 5:56, 57.
Ciúme e falsidade —
Dói-me dizer que existem línguas desenfreadas entre os membros da
igreja. Há línguas falsas, que se alimentam da maldade. Há línguas
astutas, que segredam. Há loquacidade, impertinente intrometimento,
insinuações hábeis. Entre os amantes da tagarelice, alguns são movidos
pela curiosidade, outros pela inveja, muitos pelo ódio contra aqueles
por meio dos quais Deus falou para os reprovar. Todos esses elementos
discordantes estão ativos. Alguns ocultam seus sentimentos reais,
enquanto outros estão ansiosos por divulgar tudo que sabem, ou mesmo
suspeitam, dos males alheios.
Vi que o próprio espírito de perjúrio,
capaz de transformar a verdade em falsidade, o bem em mal, e em crime a
inocência, está agora ativo. Satanás está exultante com a condição do
professo povo de Deus. Enquanto muitos negligenciam sua própria
salvação, vigiam ansiosamente por uma oportunidade para criticar e
condenar os outros. Todos têm defeitos de caráter, e não é difícil
descobrir alguma coisa que a inveja pode interpretar para seu mal.
“Ora”, dizem esses juízes por iniciativa própria, “temos fatos. Nós lhes
faremos uma acusação da qual não se poderão livrar”. Daí aguardam uma
oportunidade apropriada e então põem em ação sua enorme coleção de
boatos e maledicências.
Em seu empenho por apresentar um
problema, pessoas que têm por natureza uma imaginação criativa estão em
perigo de se enganarem a si mesmas e aos outros. Apanham expressões que
outros utilizaram em momento descuidado, despercebidas de que as
palavras podem ser pronunciadas precipitadamente, não refletindo assim
os verdadeiros sentimentos de quem as proferiu. Mas essas observações
não ponderadas, muitas vezes tão banais que não merecem atenção, são
olhadas através da lente de Satanás, meditadas e repetidas, até que
montículos de terra juntados pelas toupeiras se transformam em
montanhas. [...]
Será caridade cristã apanhar todo boato
que por aí flutue, desenterrar tudo que lance suspeita sobre o caráter
de outro, e então ter prazer em empregar isso para prejudicar as
pessoas? Satanás exulta quando pode difamar ou ferir um seguidor de
Cristo. Ele é o “acusador dos irmãos”. Apocalipse 12:10. Deverão os
cristãos ajudá-lo em sua obra?
Os olhos de Deus, que tudo vêem, notam os
defeitos de todos e a paixão dominante de cada qual; contudo, têm
paciência com os nossos erros, e Se compadecem de nossa fraqueza. Ele
ordena ao Seu povo que nutra o mesmo espírito de ternura e paciência. Os
verdadeiros cristãos não exultarão em expor as faltas e deficiências de
outros. Manterão distância da vileza e deformidade, para fixar a mente
naquilo que é atraente e amável. Para o cristão todo ato de crítica e
toda palavra de censura ou condenação são penosos. — Testimonies for the
Church 5:94-96.
Os efeitos de criticar a igreja e seus líderes —
O espírito de tagarelice e maledicência é um dos instrumentos especiais
de Satanás para semear discórdia e luta, para separar amigos e solapar a
fé de muitos na veracidade de nossas crenças. Os irmãos e as irmãs
estão demasiado prontos para falar das faltas e erros que julgam existir
em outros, e especialmente nos que têm apresentado sem recuo as
mensagens de repreensão e advertência que o Senhor lhes confiou.
Os filhos desses queixosos escutam de
ouvidos abertos e recebem o veneno da desafeição. Os pais fecham assim,
cegamente, os meios pelos quais poderia ser alcançado o coração dos
filhos. Quantas famílias temperam suas refeições diárias com dúvidas e
críticas! Dissecam o caráter de seus amigos e o servem como delicada
sobremesa. Um precioso bocado de maledicência é passado ao redor da
mesa, para ser comentado, não só por adultos, mas também por crianças.
Nisso Deus é desonrado. Disse Jesus: “Quando o fizestes a um destes Meus
pequeninos irmãos, a Mim o fizestes”. Mateus 25:40. Portanto, Cristo é
menosprezado e profanado pelos que difamam Seus servos.
Os nomes dos escolhidos servos de Deus
têm sido usados com desrespeito, e em alguns casos com absoluto desdém,
por certas pessoas cujo dever é apoiá-los. As crianças não têm deixado
de ouvir as observações desrespeitosas dos pais com referência às
solenes repreensões e advertências dos servos de Deus. Têm compreendido
os escarnecedores gracejos e palavras depreciativas que de tempos a
tempos lhes têm chegado aos ouvidos, e a tendência tem sido nivelar, em
sua mente, os interesses sagrados e eternos, com os negócios comuns do
mundo. Que obra realizam esses pais, fazendo de seus filhos uns
incrédulos, já na infância! Desta maneira é que as crianças são
ensinadas a serem irreverentes e a se rebelarem contra as repreensões do
pecado, enviadas pelo Céu.
Onde existem semelhantes males, só pode
prevalecer o declínio espiritual. Esses mesmos pais e mães, cegados pelo
inimigo, admiram-se de que os filhos sejam tão inclinados à
incredulidade, e a duvidarem da verdade da Bíblia. Admiram-se de que
seja tão difícil alcançá-los por influências morais e religiosas.
Tivessem eles visão espiritual, e descobririam desde logo que esse
deplorável estado de coisas é resultado de sua própria influência
doméstica, produto de seus ciúmes e desconfiança. Assim, muitos
incrédulos são feitos nos círculos familiares de professos cristãos.
Muitos há que encontram prazer especial
em falar demoradamente nos defeitos, reais ou imaginários, dos que arcam
sob pesadas responsabilidades em relação com as instituições da causa
de Deus. Passam por alto o bem que tem sido realizado, os benéficos
resultados do árduo esforço e persistente dedicação à causa, e prendem a
atenção em alguns aparentes erros, coisas que, depois de cometidas e ao
seguirem-se as conseqüências, imaginam eles que poderiam ter sido
executadas de modo melhor, com resultados mais lisonjeiros. No entanto a
verdade é que, tivessem eles sido encarregados do trabalho, ou se
haveriam recusado a agir em vista das circunstâncias desencorajadoras do
caso, ou teriam agido mais indiscretamente do que os que efetuaram a
obra, seguindo o caminho aberto pela providência de Deus.
Mas esses incontroláveis faladores
apegam-se ferrenhamente aos aspectos mais desagradáveis da obra, tal
como os líquens se agarram às asperezas da rocha. Essas pessoas
atrofiam-se espiritualmente por se demorarem continuamente sobre os
fracassos e faltas dos outros. São moralmente incapazes de discernir as
ações boas e nobres, os esforços altruístas, o verdadeiro heroísmo e o
sacrifício próprio. Não vão se tornando mais nobres e elevados em sua
vida e esperanças, nem mais generosos e amplos em suas idéias e planos.
Não cultivam aquela caridade que deve caracterizar a vida do cristão.
Degeneram dia a dia, tornando-se mais estreitos em seus preconceitos e
opiniões. A pequenez é seu elemento, e a atmosfera que os rodeia é
peçonhenta para a paz e a felicidade. — Testimonies for the Church
4:195, 196.
Toda instituição terá que lutar com
dificuldades. As aflições são permitidas para provar o coração do povo
de Deus. Quando a adversidade sobrevém a uma das instituições do Senhor,
fica evidente quão verdadeira fé temos em Deus e em Sua obra. Nessas
ocasiões, ninguém considere as coisas sob o pior aspecto, dando vazão a
dúvidas e descrença. Não critiquemos os que arcam com o peso das
responsabilidades. Não sejam as conversas envenenadas em nosso lar pela
crítica aos obreiros do Senhor. Pais que condescendem com esse espírito
de crítica não estão apresentando perante os filhos aquilo que os há de
tornar sábios para a salvação. Suas palavras tendem a abalar a fé e a
confiança, não só das crianças, mas também dos de mais idade. [...]
Os dirigentes de nossas instituições têm
uma tarefa dificílima para manter a ordem e disciplinar sabiamente os
jovens que se acham sob o seu cuidado. Os membros da igreja podem fazer
muito para lhes suster os braços. Quando os jovens não se dispõem a
submeter-se à disciplina da instituição, ou por divergirem de seus
superiores em qualquer matéria, se decidem fazer prevalecer a sua
própria vontade, não apóiem os pais cegamente os filhos, tomando-lhes as
dores.
Muito, muito melhor seria que sofressem
seus filhos, até que jazessem no túmulo, do que serem ensinados a tratar
levianamente os princípios que se acham no próprio fundamento da
lealdade para com a verdade, para com seus semelhantes e para com Deus. —
Testimonies for the Church 7:183, 185, 186.
A autocrítica é uma virtude —
Se todos os cristãos professos usassem suas faculdades investigadoras
para ver quais os males que neles mesmos carecem de correção, em vez de
falar dos erros alheios, existiria na igreja hoje uma condição muito
mais saudável. [...] Quando o Senhor juntar Suas jóias, os verdadeiros,
os francos, os honestos serão por Ele contemplados com prazer. Anjos se
acham empenhados em fazer coroas para eles, e sobre essas coroas
adornadas de estrelas se refletirá, com esplendor, a luz que irradia do
trono de Deus.
O Senhor está experimentando e provando
Seu povo. Vocês podem ser severos e críticos com o seu próprio caráter
defeituoso, o quanto quiserem; sejam, porém, bondosos, misericordiosos e
corteses para com os outros. Indaguem todos os dias: Sou absolutamente
íntegro, ou tenho coração falso? Supliquem ao Senhor que os salve de
todo engano nesse ponto. Acham-se nisso envolvidos interesses eternos.
Ao passo que tantos anseiam honras e ambicionam o ganho, busquem vocês,
meus amados irmãos, ansiosamente a certeza do amor de Deus, e clamem:
Quem me mostrará como tornar certas minha vocação e eleição?
Satanás estuda cuidadosamente os pecados
básicos dos homens, e a seguir começa seu trabalho de os seduzir e
enlaçar. Estamos no mais grosso da tentação, mas há vitória para nós se
corajosamente travarmos as batalhas do Senhor. Todos estão em perigo.
Mas se andarem humilde e devotamente, emergirão do processo de prova
mais preciosos do que o ouro puro, sim, do que o ouro fino de Ofir. Se
forem relapsos e negligenciarem a oração, serão como o sino que tine e o
címbalo que soa. — Testimonies for the Church 5:96-98.
Ellen G. White, Conselhos para a Igreja, Capítulo 33.
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